A radiofrequência é um dos principais tratamentos para neuralgia do trigêmeo grave. Primeiramente, vamos lembrar que a neuralgia do trigêmeo causa crises de dor facial em um ou mais ramos do nervo trigêmeo, na grande maioria das vezes de um lado só do rosto e frequentemente do tipo choque, pontada ou fisgada, que começam e terminam rapidamente. Ou seja, elas vêm em crises, podendo ser desencadeadas por estímulos táteis como falar, mastigar, escovar os dentes, fazer a barba ou simplesmente tomar um vento no rosto. Inicialmente, o paciente deve ser tratado com uso de medicamentos da classe dos anticonvulsivantes, o que traz um bom efeito em 50 a 70% dos pacientes. Naqueles pacientes onde o medicamento não resolve ou naqueles pacientes onde há muitos efeitos colaterais, nós devemos considerar a realização de um procedimento minimamente invasivo, onde a radiofrequência é uma excelente opção. Embora não seja uma cirurgia propriamente dita, a radiofrequência deve ser obrigatoriamente realizada no centro cirúrgico. O paciente recebe um sedativo, como de uma endoscopia, para que ele durma e não sinta desconforto durante o procedimento. Com o paciente dormindo, nós localizamos, por meio de aio-X, um buraco no osso por onde passa o nervo trigêmeo. Nós conseguimos, então, colocar uma agulha fininha dentro do nervo trigêmeo. Por dentro dessa agulha, colocamos um eletrodo que é ligado a um gerador de radiofrequência. O gerador emite uma corrente elétrica, cujo objetivo é inativar o nervo trigêmeo que está em curto circuito. O paciente então se alimenta depois de acordar da sedação da anestesia, o que demora alguns minutos, e pode voltar para casa, sem necessidade de internação. Um estudo científico, que avaliou 1600 pacientes submetidos à radiofrequência do trigêmeo, percebeu que o alívio imediato da dor superou 95%. Depois ele acompanhou esses pacientes durante 20 anos, e o que foi possível perceber depois de 10 anos do procedimento foi que pouco mais da metade dos pacientes ainda estavam sem dor. Neste mesmo estudo, foram observados pacientes que repetiram o procedimento, em casos de recidiva das dores, e esses mantiveram uma alta taxa de sucesso, com a redução da dor sempre acima de 90% dos pacientes durante os 20 anos. Um ponto muito importante é estar atento às possíveis complicações. Todo procedimento médico traz consigo o risco de algumas complicações. Embora raras, todo procedimento que envolva uma punção na pele traz consigo o risco de uma infecção ou hematoma. Uma vez que o objetivo do procedimento de radiofrequência é inativar o nervo trigêmeo, é claro que podem ocorrer algumas alterações da sensibilidade do rosto, como por exemplo, dormência na região, que se assemelha ao fim de uma anestesia de dentista; ou um formigamento. Alguns pacientes relatam uma leve fraqueza do músculo da mastigação, chamado de músculo masseter. É importante lembrar que o nervo trigêmeo não é responsável pelos movimentos faciais, então não há risco do rosto ficar torto. O que a gente percebe na prática do dia-a-dia é que a indicação desse tipo de procedimento é muito importante. Ele deve, então, ser reservado para aqueles pacientes com dores intensas que não melhoram com medicamento, ou àqueles em que o uso dos medicamentos traz muitos efeitos colaterais.
Postura e dor lombar crônica: há relação?
Postura e dor lombar crônica: há relação? Como já vimos, as dores lombares representam o principal motivo que levam um paciente a procurar um especialista em dor além de ser a maior responsável por incapacidade no mundo. É extremamente comum, quase que automático e extremamente difundido pela média, associar as dores lombares com uma suposta postura inadequada. E se eu te dissesse que isso não é verdade? Pois NÃO É VERDADE!!! Vários estudos científicos de alta qualidade avaliaram a relação entre a ocorrência de dores lombares e posturas consideradas inadequadas no ambiente de trabalho e demonstram que não há relação de causalidade, ou seja, a postura não é um causador de dores lombares. Outro ponto curioso, paciente que acreditam que a postura no trabalho é um fator de risco para dores lombares têm mais chance de ter dores nas costas. O que recomendamos atualmente é que o paciente altere a sua postura frequentemente, não permanecendo parado por muito tempo. O hábito de levantar periodicamente no ambiente de trabalho é extremamente salutar. Elders LAM, Burdorf A. Interrelations of risk factors and low back pain in scaffolders. Occup Environ Med 2001;58:597–603. Daltroy LH, Larson MG, Wright EA, et al. A case-control study of risk factors for industrial low back injury: implications for primary and secondary prevention programs. Am J Ind Med 1991;20:505–15. Elders LAM, Heinrich J, Burdorf A. Risk factors for sickness absence because of low back pain among scaffolders: a 3-year follow-up study. Spine 2003;28:1340–6. Harkness EF, Macfarlane GJ, Nahit ES, et al. Risk factors for newonset low back pain amongst cohorts of newly employed workers.Rheumatology (Oxford) 2003;42:959–68. Engels JA, van der Gulden JWJ, Senden TF, van’t Hof B. Work related risk factors for musculoskeletal complaints in the nursing profession: results of a questionnaire survey. Occup Environ Med 1996;53:636–41. Yip YB, Ho SC, Chan SG. Identifying risk factors for low back pain (LBP) in Chinese middle-aged women: a case-control study. Health Care Women Int 2004;25:358–69. Miranda H, Viikari-Juntura E, Martikainen R, et al. Individual factors, occupational loading, and physical exercise as predictors of sciatic pain. Spine 2002;27:1102–9.