DORES LOMBARES

As dores lombares representam, há muito tempo, a principal queixa em um consultório médico especializado em dor. Um estudo, patrocinado pela Fundação Bill e Melinda Gates avaliou o impacto de várias doenças em mais de 180 países. Os dados são atualizados periodicamente e mostram que as dores lombares continuam sendo a maior causa de incapacidade no mundo. E o que sabemos é que a ocorrência de dores lombares tem aumentado significativamente e as causas disso serão abordadas daqui a pouco.

O primeiro e maior desafio do médico diante de um paciente com dores lombares crônicas é identificar a causa, ou a principal causa da dor. De fato não é tarefa fácil. Grande parte dos pacientes acaba sendo enquadrado como tendo “dores lombares inespecíficas” onde não há uma causa principal detectável.

As causas mais frequentes são: degeneração do disco intervertebral, artrose das articulações da coluna (facetas lombares), alterações da articulação sacrolíaca, dores musculares (Músculo psoas, por exemplo) e alterações nos ligamentos que sustentam a coluna vertebral. Em muitos dos casos há mais de uma causa contribuindo para as dores.

o que se sabe sobre a dor lombar?

Esse ponto é muito importante, A grande maioria dos pacientes com dores lombares terão resolução espontânea, o que significa que nada precisa ser feito além de alguns analgésicos para conforto inicial. Já alguns permanecem com dores. Quem tem mais chances de permanecer com dores?

Sexo feminino: mulheres têm aproximadamente duas vezes mais chances de terem dores crônicas lombares, embora o mecanismo para isso não tenha sido completamente elucidado.

Genética: pesquisas recentes demonstram que há fatores genéticos envolvidos na percepção e modulação da dor. Então, se seus pais têm dores lombares crônicas, é hora de você começar a evitar os outros fatores de risco que PODEM ser evitados.

Sobrecarga mecânica: esse é um dos fatores mais delicados e controversos. Os estudos mostram que sobrecargas mecânicas, sejam através de trabalho ou prática exposta extenuante, podem sim aumentar as chances de dores lombares crônicas. Por outro lado, o sedentarismo também pode. Nossa coluna não é frágil, ela foi concebida para resistir a bastante peso. Mas não abuse, em especial se você tiver outros fatores de risco dos quais estamos falando.

Tabagismo: Aqui temos um dos principais fatores de risco modificáveis. Quem fuma tem aproximadamente quatro vezes mais chances de ter dores lombares, hérnia de disco e até de precisar de uma cirurgia. Se você fuma, tente reunir forças para abandonar esse vício, embora saibamos que é muito difícil. 

Depressão e ansiedade: aqui temos dois fatores de risco importantíssimo para a cronificação da dor. A depressão e a ansiedade acabam sensibilizando as vias da dor, por mecanismos complexos. É essa a razão pela qual encaminhamos alguns pacientes para o tratamento psicológico, não por achar que a DOR É PSICOLÓGICA.

Postura: esse é outro fator de risco controverso. É claro que uma postura extremamente ruim pode ser danosa para a biomecânica da coluna mas isso não quer dizer que você deva permanecer sentado completamente ereto, feito uma princesa inglesa, o tempo todo, isso é completamente impossível. O que é mais importante então? Movimentar-se, alterar a postura frequentemente, levantar da cadeira frequentemente.

Obesidade: Sim, a obesidade e sobrepeso aumentam as chances do desenvolvimento de dores lombares crônicas. Quanto, aproximadamente um acréscimo de 15%.

O diagnóstico das dores lombares é um desafio enorme. É preciso detalhar todas as características da dor tais como localização, fatores que pioram ou aliviam as dores, irradiação e outros sintomas associados (ex. Formigamento), modo de aparecimento, etc.

O exame físico é fundamental, usualmente fazemos manobras específicas que podem sugerir ou não alguma estrutura como fonte da dor.

Em alguns casos devemos solicitar exames de imagem e o mais utilizado é a ressonância nuclear magnética.  E aqui vale discorrermos sobre as limitações da ressonância no diagnóstico da dor. Nem tudo que aparece na ressonância é causa de dor e isso é muito importante. 

Por exemplo, um estudo realizados com tenistas juvenis SEM DORES ALGUMAS mostrou que mais de 30% deles tinham hérnias de disco. Percebam como esse dado é importante, não é porque você tem uma hérnia na ressonância que isso te causa dor. 

O tratamento de pacientes com dores lombares vai depender, logicamente, da causa específica.

Como linhas gerais seguimos uma espécie de escada analgésica, onde aumentamos a potência dos nossos métodos analgésicos a depender da intensidade da dor do paciente (Figura 2).

Sempre optamos por tratamentos com menor possibilidade de complicações.

Como linhas gerais no início utilizamos analgésicos específicos e uma fisioterapia especializadas. Em casos de falha nesse tipo de tratamento começamos a pensar em procedimentos intervencionistas a depender da causa da dor.

Vamos usar um paciente com hérnia de disco como exemplo. O tratamento básico para esse tipo de paciente é a fisioterapia e uso de alguns medicamentos analgésicos. Quando isso não resolvia o problema o paciente era automaticamente encaminhado para a cirurgia. Hoje não é mais assim, há inúmeros tratamentos menos invasivos do que a cirurgia. Por exemplo, podemos colocar uma agulha fininha ao redor do nervo comprimido pela hérnia e injetar uma substância anestésica e anti-inflamatória (a dor da hérnia ocorre porque há uma compressão do nervo que desce para a perna). Esse tipo de procedimento associado à fisioterapia reduz a necessidade de cirurgias em 80%, segundo estudos científicos. Outra opção seria retirar parte da hérnia com uso de dispositivos específicos, sem necessidade de cortes ,sem necessidade de internação ou de anestesia geral.

Na barra de tópicos vocês encontrarão explicações sobre cada tipo de dor lombar.